quinta-feira, 21 de maio de 2009

Bioenergia: uma solução ecológica para São Borja

Por Fabio da Silva, Francis Limberger e Vladson Ajala

A produção de arroz tem sido historicamente, uma das bases da economia de São Borja. Contudo, sempre houve dificuldades em dar um destino adequado à casca do cereal, um dos resíduos do beneficiamento. Depois de muitos anos poluindo o meio ambiente, agora a casca do arroz será usada para a geração de energia elétrica. A usina de biomassa, onde a casca é queimada para gerar calor, vem para resolver um problema ambiental antigo, mas também para agregar valor à produção.

Nas lavouras são-borjenses são colhidas anualmente seis milhões de sacas (50 kg) de arroz. Além disso, outros quatro milhões de sacas são importadas de outras regiões para serem beneficiadas nos engenhos locais. Como a casca do grão representa 20% da massa beneficiada, tem-se a cada temporada um montante de dois milhões de sacas de resíduos. O destino correto a ser dado a este material sempre foi uma dúvida dos proprietários de engenhos.

Mesmo se tratando de um corpo orgânico, a casca do arroz apresenta características que tornam o seu processo de decomposição muito demorado. Por isso, o seu uso como adubo orgânico se torna inviável. Há a possibilidade do uso em granjas de aves e suínos, servindo para proteger os animais da umidade. Entretanto, a grande distância das regiões onde se praticam estas formas de pecuária torna insuficiente o recolhimento do resíduo para este fim. O despejo de milhares de toneladas de casca de arroz em campos e terreno abandonados tornou-se um problema ecológico crônico, exigindo inclusive intervenção das autoridades ambientais.

A queima da casca como solução

A crescente preocupação na busca de energias renováveis, somada à necessidade de dar um destino ecologicamente correto à casca de arroz, fez surgir a idéia do uso deste material para a geração de eletricidade. Desenvolveu-se uma técnica baseadas nas usinas termoelétricas já existentes. Porém, ao invés de queimar combustíveis fósseis para gerar calor, utiliza-se o subproduto do arroz.

A inovação chamou a atenção de José Francisco Rangel, que no comando da ADSB (Agência de Desenvolvimento de São Borja) buscou apoio da iniciativa privada para instalar uma usina termoelétrica deste tipo no município. Através de investimentos da empresa alemã MPC Holding, a ADSB viabilizou a instalação de uma usina de biomassa em São Borja. Segundo Rangel, já há um contrato de 12 anos, assinado entre a MPC e as 15 empresas de beneficiamento de arroz de São Borja.

Uma das empresas envolvidas no projeto é a Cereais Passo. Além de fornecer matéria prima para a usina, a empresa deverá ser responsável pelo recolhimento da cinza produzida durante a queima. Segundo o funcionário Adil Dalenogare, os resíduos da queima da casca têm várias utilizações industriais, como por exemplo, na fabricação de plásticos e de cloreto de amônia (uréia), insumo muito utilizado na agricultura.

Os benefícios ambientais

Os benefícios ambientais que deverão ser proporcionado pela usina de biomassa vão além de poluição do solo. Além de eliminar o elemento poluidor do ambiente, a usina fornecerá um tipo de energia renovável e com baixo índice de poluição do ar. O secretário estadual do meio ambiente, Berfran Rosado, comentou o investimento: “Há um ganho duplo, pois a casca de arroz será utilizada, eliminando o resíduo e, e dela, será produzida energia limpa”.

O engenheiro agrônomo Luiz Alberto Mairesse considera as usinas de biomassa de extrema importância. Contudo, Mairesse acredita que esse é apenas um passo em direção a um futuro, onde a geração de energia será 100% limpa. “Esta é uma oxigenação que a ciência está conseguindo, para depois investirmos em energia mais viável, mais econômica e que não cause nenhum tipo de poluição ambiental”.

A obra

A usina de biomassa de São Borja começou a ser construída em agosto de 2008, junto à BR 287. De acordo com José Francisco, a parte civil da obra está 80% concluída. Faltaria ainda a instalação da caldeira e da turbina, o que está previsto para o segundo semestre deste ano. Segundo Rangel, o contrato assinado com a construtora prevê que até dezembro a obra esteja concluída. Dessa forma, no início de 2010, São Borja já estaria produzindo energia elétrica a partir da biomassa.

Os números da usina (fonte ADSB)

Custo da obra: R$ 55 milhões;
Capacidade de processamento: 100.000 toneladas de casca ao ano;
Capacidade de geração 12,3 MW’s;
Empregos diretos: 25;
Empregos indiretos: 100;
Impostos a serem gerados: R$ 3 milhões/ano;

Um comentário:

Taniza Silva disse...

Congratulo a inciativa da usina de biomassa sólida de casca de arroz.

Diante da realidade socioambiental brasileira, onde a intensificação do consumo desenfreado, urge que tenhamos soluções inovadoras, criativas e inteligentes para suprir as necessidades mais preeminentes, como a produção e distribuição de energia.

A biomassa, sendo fonte renovável de energia, é meio inteligente e um dos meios comprometidos a salvaguardar que tenhamos uma sociedade capitalista sim, porem de forma responsável para possamos suprir as necessidades da coletividade atual bem como das futuras gerações.
Desta forma, podemos equilibrar a ordem natural das coisas, não correndo o risco de deixar-mos para as gerações vindouras um legado irresponsável e devastador.

Taniza Silva. Advogada militante e pósgraduanda em Direito Ambiental e Urbanístico pela Universidade Anhanguera – UNIDERP/ REDE LFG.