quinta-feira, 21 de maio de 2009

São Borja terá Centro de Controle de Zoonoses

Por Andréia Sarmanho e Guilherme Veiga

O grande número de cachorros abandonados nas ruas de São Borja sempre foi um problema em função da possibilidade de surgimento de zoonoses – doenças transmitidas ao homem por animais. Pior que isso é a falta de perspectivas de solução para esse quadro. Em abril do ano passado, tramitava em Brasília um projeto de abrigo de animais realizado pela Prefeitura Municipal, orçado em torno de R$ 250 mil. Disputando com outros projetos de todo o Brasil, o abrigo de São Borja não foi selecionado entre os aprovados.

Com o surto de leishmaniose, cujos primeiros casos surgiram em novembro de 2008, o processo teve de ser acelerado. A Secretaria de Saúde do Estado elaborou o projeto arquitetônico não mais de um abrigo, mas de um Centro de Controle de Zoonoses, orçado em R$ 295 mil. O Diretor de Projetos e Edificações da Prefeitura Municipal de São Borja, Agnelo Aquino, explica que a prefeitura ainda deve intervir em detalhes para a finalização do planejamento do estado: “esse projeto está sendo complementado com os projetos hidráulico e elétrico, que não foram feitos lá, então estão sendo feitos aqui no departamento”, explica.

A verba do Fundo Estadual de Saúde necessária para a execução da obra já foi destinada para o Fundo de Saúde do município, que aguarda o repasse. A burocracia e a forma de pagamento podem atrasar o início das obras, como explica o diretor de Captação de Recursos da prefeitura, Júlio Cezar Vieira: “uma verba necessária em uma vez pode ser repassada em três, seis parcelas, e a prefeitura algumas vezes acaba tendo que arcar com os gastos, sendo ressarcida depois, para não parar a obra”.

As construções efetivas do abrigo ainda não começaram a ser feitas, mas em abril deste ano teve de ser construída uma instalação emergencial no mesmo local para atender 42 cães pertencentes a uma moradora do centro da cidade. Os animais foram recolhidos pela prefeitura devido a uma ordem judicial movida pelos vizinhos, que determinava a retirada imediata dos cães. O abrigo possui quatro peças, cobertas por uma tela que evita a entrada de mosquitos nesses ambientes, para os animais dormirem, porém muitos ficam soltos a noite, na área cercada por uma tela que delimita a extensão do abrigo.

Segundo a dona dos cães e presidente da Associação dos Colaboradores de Proteção Animal de São Borja (ACOPASB), Irma Perazolo, o surgimento da leishmaniose na cidade abriu a oportunidade para que os vizinhos vencessem o processo que moviam contra ela. Ainda segundo Irma, as condições do abrigo improvisado são extremamente precárias e ineficientes na prevenção da doença, especialmente pela sua localização que é próxima a lugares descampados.

A maior reclamação é que os animais foram levados para o local quando ainda não havia estrutura necessária para comportá-los, deixando os cães expostos ao sol e sem os cuidados básicos necessários, como potes de água e comida suficientes. “Eles foram jogados lá de qualquer jeito, aquilo é um campo de extermínio”, declara a dona dos animais. Ainda segundo ela, a prefeitura usou da leishmaniose para confundir a população sobre o verdadeiro propósito do abrigo, já que foi divulgado na imprensa local que a instalação era mais uma medida imediata de combate a doença. No entanto, nenhum animal recolhido de sua casa apresentava quaisquer sintomas e os exames realizados ainda estão sendo analisados. Sobre a doença, ela acredita que a comunidade carece de informação e de mais trabalho preventivo: “não é matando que se resolve, é tratando”, ressalta.

A prefeitura ainda não tem condições de recolher os cães de rua, a menos que estejam muito doentes e diagnosticados com leishmaniose. Segundo a diretora da Vigilância Sanitária, Janaína Leivas, está sendo realizado o exame Elisa, que diagnostica num primeiro momento a doença. Caso o resultado for positivo, é solicitado um exame chamado Rifi: “o Rifi era feito em Porto Alegre, mas como eles estão sem material, nós temos que enviar as amostras para Minas Gerais”. Além de caro, o processo atrasa a ação da vigilância, que nada pode fazer sem as comprovações dos resultados, que demoram aproximadamente dois meses.



A única forma de lidar com os casos de leishmaniose nos cães diagnosticados em São Borja, segundo a diretora da Vigilância, é a eutanásia, já que o tratamento não resulta em cura definitiva, mas apenas retarda os sintomas da doença, que estará sempre presente no animal infectado. “No animal o protozoário se instala na corrente sanguínea, enquanto na pessoa ataca apenas alguns órgãos, podendo ser curado, diferente do animal, que com tratamento pode diminuir lesões mas nunca se livrará do protozoário”, explica. A vacina preventiva não é recomendada porque confunde as análises clínicas da verificação da doença, podendo gerar um diagnóstico positivo para a leishmaniose. “Nenhum animal sequer foi sacrificado sem a comprovação e em todos os casos nós exigimos uma autorização por escrito e assinada pelo dono”, esclarece Janaína.

A prevenção ao mosquito é fundamental para o controle da doença. O recente período de seca, impediu que o mosquito palha se proliferasse, já que ele necessita de ambientes úmidos para botar seus ovos. O apoio da comunidade é imprescindível, mas ao mesmo tempo é a maior dificuldade encontrada pelos agentes de saúde, “porque é difícil mudar os hábitos das pessoas e muita gente tem pátio sombreado, coberto de plantas, que é o ambiente mais favorável ao mosquito”. Recomenda-se que as pessoas podem galhos de árvores e recolham folhas e frutas do chão. “Não é que não possa ter grama no pátio. Pode, mas o ideal é que pegue sol”, acrescenta a diretora da Vigilância Sanitária.

Com a construção do Centro de Controle de Zoonoses a intenção é deslocar o departamento de fiscalização sanitária, que fica localizado junto ao posto de saúde ao lado da Secretaria de Saúde Municipal, para as novas instalações. Estão previstos na planta do Centro laboratórios para agilizar os exames realizados nos animais. “Infelizmente, a leishmaniose veio para ficar”, afirma Janaína Leivas.

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