quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pulseiras da discórdia

Luan Berti
Marcelo Andrade
Tâmela Grafolin


Um objeto simples e aparentemente inofensivo causa discussão em São Borja. Pequenas pulseiras coloridas, nova moda entre adolescentes da cidade, motivaram votação na Câmara de Vereadores, que resultou na aprovação, semana passada, de um projeto de lei que proíbe o uso das pulseiras em escolas de rede pública e privada da cidade. Os parlamentares alegaram que os objetos fazem parte de “jogos” com conotação sexual, não recomendados para adolescentes.

O vereador Celso Lopes, autor do projeto, acredita que a medida será eficaz para proteger o ambiente escolar de um possível “estimulo à sexualidade precoce”, o que, segundo ele, seria motivado pelo uso dos acessórios. “Embora saibamos que nem todos usam as pulseiras para jogos de sexo, essa moda é perigosa, pois põe em risco a integridade física e moral das crianças e adolescentes”, avalia Lopes.

A Secretária de Educação de São Borja, Ana Cláudia Gattiboni, afirma que o controle sobre o que as crianças usam deve ser feito pelos pais, mas apoia a decisão da Câmara: “mesmo não havendo nenhum caso de assédio, intimidação ou crimes sexuais aqui na cidade, relacionados ao uso da pulseira, a proibição serve como prevenção, que pode evitar que esse tipo de problema ocorra no futuro”.

Mas a decisão não gera apenas aplausos. Os comerciantes que vendem os objetos acreditam que a proibição só vai trazer prejuízos financeiros, já que a procura pelos adereços tende a cair pela metade. “Essas pulseiras são acessórios comuns, que as pessoas compram, na maioria das vezes, só para combinar com a roupa. Penso que a educação de casa é o mais importante. Só brinca com isso quem quer, e, além disso, não se trata de uma coisa nociva à saúde, é só uma pulseira”, destaca o comerciante Anderson Renê.

As estudantes Marília, 14, e Luiza, 15 anos, dizem que sempre usaram as pulseiras porque achavam bonitas, e nem sabiam das brincadeiras de sexo até começar a aparecer na televisão: “eu uso (as pulseiras) porque está na moda, é tendência, todo mundo usa, só isso”, conta Marília.

Segundo o texto do projeto, cabe ao corpo docente da rede de ensino municipal de ensino a realização de reuniões com pais e alunos para esclarecer as novas regras, assim como estabelecer as punições para quem desrespeitá-la. Mas, os profissionais da área de educação preveem dificuldades na aplicação da lei, conforme explica a orientadora educacional da escola Tusnelda Lima Barbosa, Rosangela Kemmerich: “o máximo que a instituição pode fazer com os alunos que desrespeitarem as regras é chamar a atenção dos pais. A escola não pode suspender um aluno só pelo uso de um acessório”, completa.

No meio estudantil, há também quem considere desnecessária a discussão em torno das “pulseiras do sexo”, como a professora Ângela Lehnart: “discutir sobre a proibição ou não do uso de um objeto é perda de tempo. Seria mais vantajosa a votação de projetos para desenvolver a intelectualidade dos jovens, e para proporcionar mais segurança dentro e ao redor das escolas”. A professora Ronise Hoff complementa: “Precisamos conscientizar os jovens, e não proibi-los. Temos bairros com esgoto a céu aberto. Por que (os vereadores) não fazem um projeto de saneamento, em vez de ficar discutindo pulseirinhas”?

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