quinta-feira, 4 de junho de 2009

Patrimônio missioneiro: a história esquecida em São Borja


Por Andréia Sarmanho e Guilherme Veiga

São Borja possui o título de cidade histórica. Muitas imagens pertencentes à época das missões jesuíticas, datadas a partir do século XVII, estão localizadas no município. Muitas ainda estão sob posse de famílias que as mantêm desde a demolição da primeira igreja, mas várias delas encontram-se no Museu Municipal Apparício Silva Rillo, que passou por reformas em 2006. Dentre outras melhorias, foi feito o hall com expositores em vidro temperado, onde estão expostos os artefatos missioneiros, entre eles um quadro pintado a óleo, que é considerado uma relíquia por ser o único encontrado nos povos missioneiros.

Mesmo com a modernização do museu, a visitação ainda não é a ideal. Ainda assim, apresenta melhora, conforme o Orientador Educacional do museu, Cláudio Lúcio Gay Krieger: “a visitação tem sido maior de uns dois anos pra cá devido ao Departamento de Atividades Culturais ter despertado o interesse de resgatar a nossa identidade cultural, porque antes de ser a Terra dos Presidentes, aqui é terra missioneira”.

A desinformação sobre o patrimônio missioneiro já virou até caso de polícia em São Borja. No ano de 2007 repercutiu na mídia nacional o caso do pastor da Igreja Universal, Fábio Guimarães da Silva Pereira, que se apossou de duas imagens pertencentes a uma família da cidade. Uma delas foi queimada em um culto da igreja e a outra desapareceu. O pastor alegou não saber que as imagens, datadas de aproximadamente 300 anos atrás, eram oriundas da época das reduções e tombadas pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Hoje, a imagem queimada encontra-se no Museu Municipal.

Mas ao contrário do que se pensa, nem todas as heranças desse período se encontram no museu. Na Igreja Imaculada Conceição, localizada no bairro do Passo, encontra-se uma das maiores relíquias das missões: um altar entalhado em madeira. “As pessoas de fora vêm especialmente para conhecer o altar, já que é o primeiro altar missioneiro dessa região das missões. Talvez não seja tão divulgado, porque o pessoal daqui vem, acha bonito, mas não é a mesma coisa, não aprecia da mesma maneira que os de fora”, conta a secretária paroquial Ruti Lopes. A paróquia pretende fazer uma restauração do altar, mas é preciso autorização do órgão responsável pelo tombamento do artefato. O pedido foi feito à Câmara Municipal, mas os paroquianos ainda não obtiveram resposta.

Outros dois locais históricos remanescentes da época missioneira são as fontes utilizadas na época pelos índios e jesuítas. A fonte São João Batista encontra-se em bom estado de preservação e todos os anos é o ponto de chegada da procissão realizada durante a festa de “São Joãozinho Batista”, como chamam os populares. A colaboração dos moradores é fundamental para a preservação da fonte, já que muitas pessoas estabeleceram residência no terreno de acesso ao local. Por outro lado, a situação da fonte São Pedro é bem diferente. Por ser localizada em um terreno aberto ela não recebe o mesmo cuidado, e apesar de ter ligação com os fundos de várias residências ao redor do terreno, a fonte está aparentemente abandonada e sem nenhuma placa de identificação da prefeitura municipal. Segundo o diretor do DAC, Sidnei Fenerharmel, a prefeitura faz a limpeza da fonte a cada dois meses, mas ele concorda que é difícil preservar o local principalmente por ser um ambiente aberto. “É preciso ter o apoio da comunidade, não adianta a prefeitura fazer a manutenção se as pessoas continuam jogando lixo”, declara.

O historiador Rodrigo Maurer, que pesquisa sobre a história missioneira de São Borja, acredita que a pesquisa deve ser um instrumento de conscientização das pessoas. “A única saída é a pesquisa, são as universidades enquanto formadoras sociais e enquanto formadoras do cotidiano”, salienta. Ele também diz que o trabalho precisa ser divulgado em um âmbito maior: “é muito fácil falar e ficar arquivado. Não, eu acho que deve ter uma finalidade, uma função pra aquilo que tu vai falar”, finaliza.

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