quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sala de aula em crise

Por Karin Franco e Chaiane Gomes
Nos últimos dias, casos de violência em escolas fazem parte da pauta dos noticiários gaúchos. O último deles foi com duas alunas de Passo Fundo que brigaram a socos em plena sala de aula. O mais grave foi com a professora que ficou com traumatismo craniano após ter um desentendimento com uma aluna.

De acordo com o jornal Zero Hora, uma pesquisa ainda em fase de compilação de dados, com 123 professores entrevistados, somente da região de Porto Alegre e Santa Maria, aponta que mais de 50% dos professores já viram ou presenciaram algum tipo de violência dentro da escola. Em São Borja, de acordo com o Conselho Tutelar, só no mês de março, as escolas comunicaram oito casos de violência entre alunos, sendo somente relacionados a crianças de até 12 anos.

Casos de brigas entre alunos são repassados ao Conselho Tutelar. As escolas públicas tentam solucionar o problema com reuniões e palestras, além de conversas com os envolvidos, mas o diretor da Escola Estadual Getúlio Vargas, Jorge Alberto Lago Fonseca fala que a escola, na maioria das vezes, não recebe apoio. “A escola está sozinha para resolver esses casos. Tentamos resolver aqui dentro mesmo”. Outra Escola de São Borja que enfrenta dificuldades é a Arneldo Matter. “Existe alguns casos de falta de cultura (...) e aí proporciona isso aí, de dizer: se meu filho bateu em alguém é porque fizeram alguma coisa para ele. Não procuram (os pais) saber por que bateu”, salienta o diretor Joicimar Ribeiro.

Escola sem apoio, professor sem amparo

Ofensas e ameaças são as formas de violência que geralmente ocorrem nas escolas de São Borja. Quando acontece, o professor comunica para a direção, e juntamente com ela, tenta resolver o caso com conversas.

Porém, alguns professores acabam por fazer vista grossa, já que muitas crianças continuam com as ofensas e ameaças. “Eu faço de conta que não escuto, porque a gente sabe que levar adiante não tem nenhuma lei que ampare a gente ou coisa assim que ampare (...)”, diz a professora Joaninha de Paula Trindade, que dá aulas há 10 anos.

“Lidar com o stress é complicado”, como fala a professora Ludmila Durão, que dá aulas há 12 anos. Sem ajuda psicológica, apenas com o apoio da escola. Muitos acabam por tentar lidar com o stress falando dele com outras pessoas, e outros tentam procurar profissionais particulares. E através de ajuda profissional muitos descobriram estar em depressão, como no caso da professora Nazir Schimidt, que dá aulas há 18 anos. O tratamento é totalmente particular, sem nenhum convênio com o Estado ou o município.

O problema está em casa

Os professores e as escolas apontam causas para que a violência esteja cada vez mais rotineira. Desenhos animados, videogames, desestrutura familiar, desigualdade social, falta de limites e desemprego dos pais estão nas causas citadas.

“Eles tem a violência em casa, no bairro onde eles moram, eles trazem tudo aquilo para a escola, aquela revolta que eles têm”, diz a professora Joaninha. Para a diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Tusnelda, Eliane Cristina Andrade, a maneira de como são tratados na família influencia no comportamento da criança na escola.

Outro problema apontado pela diretora Eliane é a falta de disciplina das crianças: “a criança não sabe como se portar nas escolas, onde há regras para que se possa fazer a aprendizagem, então, se torna difícil”.

A psicóloga Juliane Guerreiro do Amaral diz que por conta da falta de limites em casa, a criança procura fazer na escola aquilo que faz em casa: “Os pais não conseguem usar da sua autoridade, e aí as crianças chegam na escola onde é um ambiente diferente do familiar e querem fazer de tudo um pouco”. A partir daí, viriam os problemas de violência.

Outros fatores, de acordo com a psicóloga, são desvios de conduta e crianças com psicopatia severa, além da desestrutura familiar.

Os jogos e a televisão se tornam problemas quando também não são limitados. “A gente sempre orienta que não é para deixar a criança mais de uma hora na frente da TV, não deixar jogar mais de meia hora por turno”, orienta a psicóloga.


A solução existe

De acordo com a psicóloga Juliane, os pais precisam desde cedo explicar as coisas aos filhos. A angústia de não ter respostar pode causar algum transtorno anos depois. Outro conselho é conversar sobre tudo o que a criança tem feito, além de também dar o bom exemplo.

“As crianças não tem atitudes muito diferente daquilo que elas têm em casa. Se ela tem falta de respeito com o professor na escola, é porque ela tem muita falta de respeito com os pais em casa”, afirma a psicóloga.

A escola também tem papel importante na educação da criança. Ela deve dar importância à história de vida da criança, saber suas angústias e dúvidas. Além disso, a psicóloga chama atenção que muitos pais não conseguem enxergar sinais de uma possível violência, e assim, a escola acaba por ser um meio de chamar a atenção dos pais com a criança.

Os pais devem fazer “combinados” com a criança. Conversar com ela, falar o que está errado, e caso o erro se repita, tirar algo que a criança goste, por algum tempo. A diretora Eliane, resume em uma frase todas as responsabilidades: “a escola ensina, a família educa”.

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